Um projeto desenvolvido por quatro estudantes da Certificação Internacional Aviation Management, curso promovido pelo SEST SENAT, coordenado pelo ITL (Instituto de Transporte e Logística) e ministrado pela Embry-Riddle Aeronautical University, levou a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) a mudar um requisito relacionado à reserva de contingência de combustível, medida que pode economizar milhões de dólares por ano às companhias aéreas do país.
"Não é todo dia que um regulador pode mudar algo assim", disse Diogo Youssef, que se uniu a Fabiano Gomes, João Centeno e Luciano Oliveira para criar o projeto inovador. "Estamos muito orgulhosos do que fizemos."
Leila Halawi, professora associada e presidente do Programa de Mestrado em Aviação e Sustentabilidade Aeroespacial, trabalhou com os alunos durante 16 semanas no projeto e relembra como eles estavam determinados a ter sucesso.
Os alunos se concentraram no combustível que é necessário estar a bordo do avião para cada viagem. Os regulamentos exigem que uma certa quantidade de combustível seja transportada como contingência, caso o clima ou outras questões forcem os pilotos a se desviarem das rotas originais, o que faz aumentar o combustível total queimado para chegar ao destino.
O padrão da ICAO (Organização Internacional da Aviação Civil, na sigla em inglês) exige que os voos tenham 5% de combustível de contingência. Mas o Brasil nunca adotou esse padrão, obrigando os voos operados pelas transportadoras brasileiras a levarem 10% como reserva a bordo. "Isso colocou as companhias aéreas do Brasil em desvantagem competitiva", disse Youssef.
Como os alunos do grupo trabalham em operações de voo e entendem quanto dinheiro é gasto em QAV (querosene de aviação), eles decidiram ver se o combustível extra era realmente necessário. "Queríamos usar o poder acadêmico da Embry-Riddle para provar que era possível mudar para o requisito para 5%", disse Youssef. "Nossas aulas, nossos professores e as ferramentas que pudemos usar representaram uma grande oportunidade para nós".
O grupo coletou dados de quase 300 mil voos das principais companhias aéreas do Brasil durante o ano passado. Na disciplina de Business Intelligence, aprenderam como usar os dados históricos para executar simulações e verificar quanto combustível foi usado e quanto restaria caso o requisito de reserva de contingência fosse alterado de 10% para 5%.
"Não foi fácil", disse Youssef. "Foi muito trabalhoso, porque às vezes a execução das simulações levava de quatro a seis horas - e levava quatro dias apenas para fazer as simulações".
Depois, foram cerca de 1 milhão de voos simulados, com análise de dados agrupados por duração, a fim de verificar quanto combustível foi usado e quanto restava após a conclusão das viagens.
Os quatro estudantes descobriram que, usando a reserva de 5%, não havia um único caso em que um avião brasileiro tivesse pousado com menos combustível do que a lei exigia. Eles perceberam que essa revelação tinha o potencial de economizar às transportadoras brasileiras cerca de US $ 6,5 milhões em despesas de combustível a cada ano.
Os quatro estudantes, que entraram em contato com reguladores da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e apresentaram suas conclusões em dezembro. Em janeiro, a agência anunciou a mudança na regulamentação do Brasil para permitir 5% como a linha de base mínima para operações seguras, que entrou em vigor em 1º de abril.
Oliveira disse que a qualidade das simulações e os dados também ajudaram a resolver as preocupações levantadas pelo sindicato de pilotos do país sobre a redução do requisito. "Nossos números eram fortes e provaram que era seguro", disse ele.
O fato de o projeto ter o nome Embry-Riddle também contribuiu. "Há muito peso nisso", disse Oliveira, acrescentando que o apoio de seus professores também os ajudou a atravessar os muitos pontos difíceis que atingiram durante o projeto.
Fonte: CNT