As companhias aéreas têm utilizado a criatividade na logística e contado com a ajuda de aplicativos e robôs para ampliar a oferta de transporte de cargas por avião no Brasil. Números da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) mostram que em 2017 foi registrado acréscimo de 1,8%, na movimentação de cargas no mercado doméstico; e de 23,4%, no internacional. Devido ao alto valor agregado, a carga movimentada representa 12% da corrente de comércio brasileira, mas apenas 0,1% em peso.
Uma das apostas do setor é a diversidade e a flexibilidade para que o produto seja entregue da forma mais rápida e com o menor custo. Esse é o exemplo da Azul Cargo Express que, em 2017, teve um crescimento de 49% e embarcou 28 milhões de quilos na rede doméstica e 15,5 milhões de quilos na internacional. “Todo produto que pode ser levado por avião a gente leva. Chegamos a entregar uma roupa de bailarina na Filadélfia (EUA), à noite, depois que pegamos em Campo Grande (MS), pela manhã. O cliente quer o seu produto o mais rápido possível”, conta a diretora da companhia, Izabel Reis.
A empresa também mira em investimento em pequenos aeroportos e nas oportunidades de exportações de demandas regionais para o mercado exterior. “Em um país de dimensões continentais, algumas peculiaridades e sazonalidades podem gerar oportunidades. Transportamos frutas para a Europa e peixes para os Estados Unidos. No caso do peixe, tiramos o produto do Nordeste e, em menos de 24 horas, já está nos EUA”, conta ela.
As companhias aéreas também trabalham para a melhoria dos serviços, trazendo inovações tecnológicas e aprimoramento da infraestrutura para levar ainda mais eficiência à operação. Eduardo Calderon, diretor da GOLLOG, serviço de transporte de carga e encomendas da GOL, destaca que a empresa foi a primeira do segmento a disponibilizar um aplicativo de celular que possibilita a realização de cotações e rastreamento de encomendas. “Criamos a tecnologia Seen Technology, que funciona em tablets conectados à internet com o envio de informações em tempo real sobre a carga. Para auxiliar no atendimento, foi implementado recentemente o Gil, um robô que presta assistência virtual esclarecendo dúvidas sobre serviços, unidades e regras gerais para o transporte de cargas.”
A Latam Cargo também está ampliando investimentos e operações. Em 2018, a companhia investirá R$ 7 milhões em reformas de terminais, além de expandir a capacidade cargueira nos voos comerciais. “O transporte de carga aérea segue a mesma tendência do segmento de passageiros. Temos a oportunidade de utilizar melhor os aviões para também levar cargas. O Brasil é um país que precisa desse tipo de serviço pelo seu tamanho, pelas condições e pelas suas distâncias”, destaca Jerome Cadier, presidente da empresa. Além de dois aviões cargueiros, a companhia utiliza os porões de toda a frota de aviões comerciais para o traslado de cargas a diferentes regiões do Brasil.
Mas, apesar do crescimento apresentado em 2017, o setor ainda enfrenta algumas dificuldades e a diversidade de produtos embarcados acaba ficando concentrada em poucos terminais. Os números da Abear mostram que 80% do tráfego de cargas no país é feito por apenas nove aeroportos e, do total movimentado, 20% está concentrado no eixo Manaus-Guarulhos.
“Estamos vivendo uma retomada. No entanto, para ela ser consistente, é preciso investir em infraestrutura. Temos alguns aeroportos que estão muito longe dos padrões internacionais, seja para o armazenamento da carga, seja para a segurança”, afirma o presidente da Avianca, Miguel Pereira. De acordo com ele, em um país como o Brasil, com dimensões continentais, e que sofre com falta de infraestrutura terrestre, o transporte de cargas aérea é essencial para o desenvolvimento econômico.
Para o consultor da Abear, Maurício Emboaba, a concentração em poucos aeroportos é reflexo da centralização da economia do país em poucas regiões. “A concentração é muito forte em São Paulo e em Manaus, por causa da Zona Franca. Isso remonta a uma falta de desenvolvimento histórico e econômico que gera grandes discrepâncias regionais”.
Emboaba também destaca o valor do combustível aéreo, que acaba sobretaxando o frete, como entrave para a manutenção do crescimento da atividade. “O valor do combustível acaba onerando o frete. Cada estado aplica uma alíquota e acaba inibindo o mercado. No transporte de carga, a alíquota gira em torno de 18,5%. Isso traz um aumento de até 20% no frete” conclui.