Após as ações da Petrobras fecharem em forte alta nesta quarta-feira, repercutindo a fala do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, sobre a possibilidade de mais um aumento no preço da gasolina neste ano, o Ministério da Fazenda afirmou que não há perspectiva de reajuste no horizonte.
Por meio de nota à imprensa, o ministro Guido Mantega (Fazenda), que é o presidente do Conselho de Administração da Petrobras, disse ainda que não garantiu ao comando da estatal reajuste de preços dos derivados. As ações preferenciais da Petrobras fecharam em alta de 4,59%, a R$ 21,18, e as ordinárias avançaram 5,43%, a R$ 22,14, enquanto o Ibovespa subiu 2,1%.
Os ganhos nos papéis da estatal também seguiram nesta quarta-feira tendência registrada desde que a Petrobras fez uma espécie de "faxina contábil" após anunciar o primeiro prejuízo em mais de 13 anos, e depois de a diretoria reafirmar que buscará novos aumentos nos derivados em busca da paridade para os preços do combustíveis, segundo analistas ouvidos pela Reuters.
A alta ocorreu apesar de Lobão ter destacado que não há nada definido sobre o aumento. "Existe a possibilidade, não existe a decisão", disse Lobão a jornalistas, acrescentando que o aumento é importante para a saúde financeira da Petrobras.
A alta está sendo discutida pelo Ministério da Fazenda e pelo Ministério de Minas e Energia, segundo Lobão, para que primeiro se chegue a um número ante de se tomar a decisão. A nota de Mantega não deu mais detalhes.
Já Lobão admitiu ainda a orientação do governo de esperar um pouco para realização do aumento de forma a não haver impacto na inflação. Segundo o ministro, o aumento que foi dado no preço da gasolina em junho, de 7,8%, não chegou ao consumidor em função da redução da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), mas ele não compensa a defasagem que a Petrobras tem em relação aos preços internacionais.
Um novo aumento na gasolina agora acabaria tendo efeito na inflação, considerando que a Cide foi zerada. A defasagem dos preços dos combustíveis foi apontada como um dos motivos, mas não o principal, para o prejuízo registrado pela estatal no segundo trimestre, o primeiro em mais de 13 anos.
"Não vislumbramos nenhum instrumento que socorra (a Petrobras), senão um aumento", disse o ministro. "Mas a preocupação com o governo na inflação também é permanente", completou.
Ações
Para Ricardo Corrêa, analista da Ativa Corretora, as ações da Petrobras estão subindo desde o anúncio do prejuízo devido a uma conjunção de fatores. "O discurso da nova diretoria de compromisso com metas e cronogramas, além da busca pela paridade são pontos positivos, e a possibilidade de novo reajuste é uma notícia positiva para a empresa", afirmou ele.
Corrêa disse que o sentimento do mercado é que as perdas da estatal já chegaram a um limite. E, depois do que ele chamou de "faxina contábil", agora a empresa está pronta para a nova gestão. "Agora qualquer notícia pode fazer com que as ações subam", disse ele.
O analista da corretora Geração Futuro, Lucas Brendler, lembra que a possibilidade de um novo reajuste foi colocada em pauta por uma pessoa de dentro do governo, como o ministro de Minas e Energia.
"Isso acaba sendo relevante. A própria presidente da Petrobras já falou na segunda-feira que busca a paridade de preços com o mercado internacional, mas os últimos três aumentos que ocorreram em 12 meses ainda não foram suficientes. Ainda há uma defasagem de 15% entre os preços internos e externos da gasolina", disse Brendler.
Na sexta-feira, a Petrobras divulgou um prejuízo líquido de R$ 1,346 bilhão no segundo trimestre, por conta da desvalorização do real e da defasagem de preços dos derivados no mercado interno. Uma queda na produção e maiores custos exploratórios também pesaram nos resultados.
Inflação
O governo, controlador da Petrobras, segurou o repasse da volatilidade dos preços do petróleo no mercado externo para os combustíveis no mercado doméstico para conter a inflação. Há nove anos não há reajuste na bomba para o consumidor, lembrou o ministro de Minas e Energia.
Neste ano já foram realizados dois reajustes do diesel, de 4% e 6% nos meses de junho e julho, além da correção nos valores da gasolina. Mas esses reajustes não foram repassados ao consumidor, à exceção da segunda alta do diesel.
Mesmo sem margem de manobra para evitar impacto na inflação, já que a Cide está zerada, o governo poderia autorizar uma nova correção considerando que a inflação neste ano está em níveis mais baixos que no ano passado.
Segundo o professor e coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia da FGV-SP, Emerson Marçal, o índice de inflação acumulada em doze meses deve cair. "Como a economia brasileira passou por um momento de desaquecimento, a projeção é que no final do ano a inflação em doze meses feche entre 4,7% a 5,3%, ou seja, menor do que a registrada em 2011", disse em nota à imprensa.
A inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), registrou alta 0,43% em julho. Considerando os últimos 12 meses, o índice registrou alta de 5,20%, segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgado nesta quarta-feira.
Extraído de: Portal Terra
Quinta, 09 Agosto 2012 10:49
Mantega descarta reajuste de combustível pela saúde da Petrobras
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