Quinta, 10 Mai 2012 11:00
Queda na produção deve afetar resultados da Petrobras
Ainda sem conseguir aumentar a produção de petróleo e gás natural, justamente em um momento em que a demanda doméstica por gasolina e derivados dispara, a Petrobras deverá voltar apresentar margens pressionadas no balanço financeiro do primeiro trimestre, que será divulgado amanhã após o pregão. A projeção é de analistas consultados pelo Jornal do Commercio, que vêem com preocupação a crescente dependência da petroleira do mercado externo para abastecer o País.
"Como a Petrobras não está conseguindo ampliar a produção na velocidade necessária para acompanhar o avanço da demanda, a companhia está se tornando exportadora de óleo cru e importadora de gasolina", observa o analista da Gradual Investimentos Paulo Esteves, ao ressaltar que a petroleira deverá apresentar uma balança comercial desfavorável nos três meses até março. "Isso para a empresa é ruim porque estamos em momento de expansão muito rápida de consumo de gasolina no Brasil", acrescenta.
O economista lembra que a demanda pelo combustível disparou 32% no primeiro bimestre em relação a igual período de 2011, ritmo superior ao salto anual de 24% observado em 2011. Enquanto isso, observa, a petrolífera apurou queda de 3,7%, para 2,599 milhões barris diários, na produção de petróleo e gás natural em março ante fevereiro. A retração foi puxada pela interrupção das operações no Campo de Frade (Bacia de Campos), no qual atuava em parceria com a norte-amerciana Chevron, e por paradas para manutenção efetuadas em várias plataformas localizadas naquela região.
Esteves estima que desempenho da companhia no primeiro trimestre virá penalizado pelas importações de combustíveis, já que os preços praticados no mercado interno continuaram muito aquém das cotações do petróleo no exterior. "A Petrobras vem comprando o produto caro e o revendendo barato", diz.
O analista da SLW Eric Scott projeta que, no caso da gasolina, o preço operado pela companhia no Brasil é cerca de 15% inferior ao vigente lá fora. "A defasagem deve resultar em margens apertadas", conjectura.
Na contramão, o analista da Bradesco Corretora Auro Rozenbaum estima que o balanço da Petrobras para o período de janeiro a março virá menos pressionado pelas importações do que o observado de outubro a dezembro. O economista prevê que o volume de compras terá recuo de R$ 2 bilhões no primeiro trimestre em relação aos três meses imediatamente anteriores.
Ainda assim, Roznbaum calcula que o lucro trimestral da Petrobras para o intervalo virá com retração anual de 20,6%, para R$ 8,7 bilhões, em função de uma piora no resultado operacional da empresa. Para a receita líquida, contudo, o economista prevê expansão de 18,9%, para R$ 65, 1 bilhões, em virtude do aumento no preço médio dos produtos vendidos pela companhia e pela expansão dos volumes comercializados.
Os resultados apresentados pela petroleira para o quarto trimestre decepcionaram o mercado, que não esperava retração tão expressiva quanto o recuo anual de 52,37%, para R$ 5,04 bilhões, no lucro líquido da companhia no período.
FUTURO. Ainda se atendo à importação de gasolina e derivados, o analista da BB investimentos Nataniel Cezimbra, assinala que a dependência da Petrobras do mercado externo deverá ser ainda maior este ano. O economista lembra que a própria companhia chegou a afirmar recentemente que, para atender à crescente demanda interna, irá trazer em média 80 mil barris de gasolina por dia do exterior em 2012, quantidade aproximadamente 30% superior aos cerca de 60 mil barris importados diariamente em 2011.
"O impacto negativo que isto terá no desempenho da companhia deverá ser enorme, visto que o preço do petróleo vem atingindo níveis recordes no mercado externo", argumenta Cezimbra. A cotação do óleo tipo brench, por exemplo, tem circulado acima dos US$ 110, enquanto o preço do WTI negociado na bolsa de Nova York vem rodando próximo a US$ 100, afirma.
Na avaliação de Scott, da SLW, o efeito das importações nas operações da petroleira poderiam ser minimizados caso o governo autorizasse a companhia a efetuar um reajuste de preços – que diminuísse a defasagem em relação ao exterior – e usasse novamente a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para diluir o impacto do encarecimento dos combustíveis na inflação.
"O aumento no curto prazo é contudo improvável, pois uma elevação neste momento iria na contra a política do governo de baixar justo enquanto tenta segurar a inflação", afirma. "Ainda há margem para um corte maior do tributo", argumenta Scott.
No final de outubro, o Planalto reduziu a Cide com o objetivo de abrir espaço para que a Petrobras aumentasse os valores da gasolina e do óleo diesel no atacado, em 10% e 2% respectivamente, sem que as elevações fossem repassadas para os preços nas bombas e pressionassem a inflação. Com isso, a alíquota da contribuição para o litro de gasolina passou de R$ 0,192, para R$ 0,091, e de R$ 0,07, para R$ 0,047, no caso do óleo diesel. A previsão é de que a redução fique vigente até 30 de junho desde ano.
A Petrobras buscava há algum tempo a anuência do governo para aumentar o preço dos combustíveis para aliviar o caixa da empresa após aumentos de custos, principalmente com importações de gasolina em meio ao grande consumo de combustíveis no mercado brasileiro.
Em linha com a visão do mercado, Esteves frisa que o maior desafio da Petrobras continua sendo encontrar uma forma de expandir vigorosamente a produção de petróleo, mantendo custos operacionais sob controle. A companhia como meta elevar a produção de barris diários para 6 milhões até 2020. No ano passado, o volume foi de 2,37 barris por dia. Extraído do Jornal do Commercio
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