Não houve surpresa na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa básica de juros (Selic) para 9% ao ano, anunciada na quarta-feira. A dúvida que ficou no ar é se a onda de corte dos juros terminou ou vai avançar mais.
Desde a divulgação da ata da reunião anterior, em março, era dado como certo que a Selic seria reduzida novamente, já que o Copom via espaço para que ela se situasse em "patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos", como ficou expresso no seu texto. A menor taxa básica desde que o sistema de metas de inflação foi adotado, em 1999, foi de 8,75%, praticada entre julho de 2009 e abril de 2010. Havia, portanto, um consenso razoável em torno da ideia de que a Selic chegaria a 9%.
A ata da reunião de março do Copom também dizia que a taxa se estabilizaria quando chegasse nesse patamar, o que contribuiu para a aposta de que a Selic estacionaria nos 9% por algum tempo. Afinal, desde que o ciclo de cortes foi iniciado, há oito meses, o juro básico brasileiro já acumula uma queda de 3,5 pontos, em um movimento elogiado até por economistas de orientações distintas, como o Nobel de Economia Paul Krugman e os profissionais do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao se referir à política monetária implementada pelo Banco Central (BC), Krugman, em entrevista ao Valor, disse que "o relaxamento monetário é apropriado".
Embora também aprove a condução da política monetária brasileira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) vê espaço limitado de manobra por causa da expectativa de que a inflação fique acima do centro da meta neste ano, em 5%, perto dos 5,08% projetados pelo mercado financeiro. Já o Banco Central projeta uma taxa de 4,4%, até ligeiramente abaixo do centro da meta, que é de 4,5%.
Foram o recente recuo da inflação em março e a letargia da economia que alimentaram a expectativa de que a Selic possa cair ainda mais. A inflação medida pelo IPCA ficou em 0,21% em março, acumulando 5,24% em 12 meses, abaixo dos 6,5% de dezembro. Essa trajetória reforçou os argumentos do BC de que a inflação está em processo de convergência para a meta e também a expectativa de novas reduções da Selic.
O comunicado emitido após a reunião do Copom nesta semana, apesar do laconismo tradicional, dá apoio a essa corrente. De acordo com o texto, "o Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação. O Comitê nota ainda que, até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária".
A fragilidade da economia neste início de ano também indica espaço para a redução dos juros. O IBC-Br, calculado pelo Banco Central como um indicador antecedente do Produto Interno Bruto (PIB), teve queda de 0,2% em janeiro e também em fevereiro. Esses números sinalizam crescimento do PIB de 0,5% a 1% no primeiro trimestre. O mercado financeiro espera que o PIB cresça 3,2% no ano.
Paradoxalmente, os mesmos indicadores servem de argumento para quem defende que a redução da Selic deveria ser interrompida ao menos temporariamente. Para esse grupo, o recuo da inflação é considerado pontual, resultado das liquidações tardias de vestuário. Em relação ao desempenho econômico, há quem acredite que vai esquentar no segundo semestre, até porque começará a fazer efeito o pacote de estímulos à indústria, ao emprego e ao consumo anunciado recentemente, que inclui o barateamento do crédito para empresas e pessoas físicas. Apesar da desaceleração da zona do euro, sinais de melhoria na economia internacional podem acabar com o "viés desinflacionário" com que conta o Copom.
Quem defende a estabilização da Selic ainda argumenta que a queda dos juros básicos precisa ser precedida por uma revisão dos mecanismos de indexação da economia brasileira, principalmente pelas regras de remuneração da poupança.
O curto comunicado emitido após a reunião do Copom deixa em aberto a possibilidade de novos cortes de juros, dependendo do comportamento da economia. Não se pode menosprezar o empenho do governo Dilma em reduzir os juros, que ficou evidente no embate com os bancos pelo barateamento do crédito - do qual saiu vitorioso.
Com o corte da Selic promovido quarta-feira, o Brasil deixa o indesejável posto de campeão mundial de juro real. De acordo com levantamento do Banco Cruzeiro do Sul, o juro real brasileiro, considerando a inflação projetada para os próximos 12 meses, recuou para 3,4%, cedendo felizmente o primeiro lugar para a Rússia, com 4,2%.
Extraída de Intelog
Segunda, 23 Abril 2012 10:37
BC deixa em aberto novas reduções na taxa de juros
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