A questão dos juros, no Brasil, tornou-se tão complicada que, no debate entre o governo e os bancos privados em torno da redução das taxas de financiamento, todo mundo tem razão.
Os bancos estão certos quando falam que os impostos são elevados; que parte dos depósitos dos clientes é recolhida compulsoriamente aos cofres do Banco Central; que existe uma taxa de risco em cada operação de crédito e que, nesse caso, os bons pagadores acabam arcando com o custo do calote alheio.
Todos esses argumentos são sensatos e devem ser levados em conta em qualquer debate sério sobre o tema. Na outra ponta, o governo também está certo ao dizer que a diferença ente o custo do dinheiro para os bancos e aquilo que eles cobram dos clientes é uma das mais largas do mundo.
Tanto é assim que convocou as duas maiores instituições estatais - Banco do Brasil e Caixa - a baixar os juros para níveis muito abaixo dos que os tomadores de empréstimos se habituaram a pagar nos últimos anos.
Ontem, o ministro da Fazenda Guido Mantega voltou a bater na tecla dos juros cobrados pelos bancos privados. O ministro afirmou que o governo não permitirá que a economia fique frustrada em suas expectativas de crescimento por causa dos juros cobrados pelos bancos.
O setor bancário do Brasil é um dos mais sólidos do mundo e parte dessa solidez (que ajudou o país a suportar os solavancos e as crises internacionais das duas últimas décadas) se deve aos juros que cobrou nos últimos anos e à política conservadora de concessão de crédito.
Só que esses aspectos, que tiveram sua importância no passado, hoje tornaram-se um problema - e os bancos realmente precisam se adequar à nova realidade. É lógico que isso acontecerá de forma natural. Mais cedo ou mais tarde, os bancos privados acabarão reduzindo suas taxas.
Do contrário, verão parte de sua clientela bandear para os lados do Banco do Brasil e da Caixa. Esse é um dos lados da história.
O outro lado é um pouco mais sensível: mais uma vez, o governo (e isso não é um problema da administração Dilma Rousseff, mas um hábito ancestral de todo e qualquer governo que o Brasil teve nos últimos 50 anos) prefere atacar o sintoma em lugar de mexer na causa da doença.
A taxa de juros no Brasil é alta não porque o governo nunca cuidou disso ou porque os bancos são gananciosos. Ela é alta porque sempre foi - e ninguém jamais pareceu se preocupar com isso.
A lei prevê e os contratos celebram mecanismos de correção monetária que, de uma forma ou de outra, ajudam a pressionar os juros para o alto. A caderneta de poupança paga correção mais juros de 0,5% ano mês e isso também é um balizador importante para a taxa.
Finalmente (e só para não estender demais na lista) existe um potencial de consumo represado que faz com que o freguês aceite pagar juros absurdos no carnê de financiamento.
A questão, para ter uma solução definitiva, exigiria uma espécie de cruzada que discuta o tema em profundidade. A população precisa ser convencida de que o fim da correção monetária é positivo, que os juros da poupança devem baixar e outras providências devem ser tomadas.
Do contrário, toda vez que se tocar no assunto haverá um clima de confronto que não levará a ponto algum.
Ricardo Galuppo é Publisher do Brasil Econômico
Extraída de: Intelog
Segunda, 16 Abril 2012 11:36
Mais uma vez, os juros
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