Documento sem título
Segunda, 24 Outubro 2011 11:12

Brasil deve aplicar meio PIB em obras até 2016, cerca de R$ 1,5 trilhão

O crescimento econômico incluiu o Brasil definitivamente na rota dos grandes investimentos de infraestrutura, transformando o país todo em um verdadeiro canteiro de obras. O avanço nos gastos públicos dos últimos cinco anos foi incrementado com o reforço da iniciativa privada e o impulso da agenda de grandes eventos esportivos — Copa do Mundo e Olimpíadas. Das 50 maiores construções tocadas pelo mundo, 14 estão em solo brasileiro, levando os analistas mais otimistas a estimarem a aplicação de R$ 1,5 trilhão em empreendimentos do gênero até 2016. O gigantismo dos números, no entanto, não esconde a carência do país, sobretudo nas áreas de saneamento e de transporte. Se considerada a perspectiva de expansão econômica e os milhares de projetos engavetados ou em atraso, ainda há muito o que fazer.   Para especialistas ouvidos pelo Correio, a melhor saída para reduzir o deficit de estradas, ferrovias, aeroportos, portos, hidrelétricas e redes de água e esgoto seria criar condições para elevar a participação do capital privado nos atuais e futuros projetos. “A burocracia e a lentidão das licenças ambientais atuais impedem até mesmo que recursos já disponíveis se transformem em infraestrutura. O Brasil precisa de um marco regulatório que dê segurança e estímulo ao investidor privado, nacional e estrangeiro”, afirma Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, voltado ao saneamento básico.   Na avaliação do executivo, uma prova evidente dos entraves, que começam na hora de formular os planos das empresas, está no fato de a execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), carro-chefe de investimentos federais em infraestrutura, não ter alcançado 50% do previsto entre 2007 e 2010.   Carlos defende uma maior presença privada em projetos dominados, atualmente, pelo setor público, como o de saneamento, no qual 70% estão nas mãos das concessionárias estaduais e 20% sob a responsabilidade municipal. Ele lembra que só 55,4% dos domicílios brasileiros têm acesso ao sistema de esgoto. Outros 11,6% usam fossa para coleta e 32,9% das residências empregam soluções inadequadas. “Até 2022, seriam necessários R$ 206 bilhões para universalizar o esgoto, conforme dados do próprio governo”, sublinha. Ele espera que a privatização em curso dos aeroportos de Brasília, Guarulhos (SP) e Campinas (SP) sirva de modelo e estímulo para capitalizar outras áreas.   Após as décadas de 1980 e 1990, perdidas para a economia e marcadas também pelo abandono da infraestrutura, o Brasil conseguiu chegar a uma média de investimentos de 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas no país) somente na segunda metade dos anos 2000, conforme dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O ideal seria o país alcançar a marca de pelo menos 3% anuais, ao longo de várias décadas”, avalia Cristina Della Penna, da consultoria Criactive.   Um levantamento da empresa mostra que o país receberá, nos próximos cinco anos, 12.265 obras, de 10 setores, que somam R$ 1,48 trilhão. Metade delas estão em curso e o restante, em fase de estudo ou planejamento, como o Trem de Alta Velocidade (TAV) entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Do total, 45% serão aplicados na extração de petróleo e gás, 23,2% em sistemas de transporte de passageiros e cargas e 12,3% na geração de eletricidade. “O setor público está à frente desses investimentos, com destaque para os projetos da Petrobras, que são 46% do total”, diz. A economista destaca que 21 das 30 maiores obras do país até 2016 são de responsabilidade da estatal.   Atratividade
Nos próximos quatro anos, a petrolífera prevê investimentos de US$ 224 bilhões, US$ 117,7 bilhões somente em exploração e produção. Na mão inversa, a área mais carente de investimento — saneamento — não chega a 10% do total. Para o defasado setor de transportes, lembra Cristina, o PAC reserva apenas R$ 12,6 bilhões até 2016 para obras rodoviárias, além dos R$ 34,6 bilhões para o TAV.   Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib), acredita que o Brasil precisa investir na atração de capitais externos para destravar o setor, oferecendo opções vantajosas para recursos de fundos de pensão, por exemplo. “Temos de melhorar o ambiente de negócios e apresentar bons projetos”, afirma. A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) calcula que só a China estaria disposta a aplicar US$ 300 bilhões no segmento, no Brasil. Godoy lembra que o setor de infraestrutura recebeu US$ 14,8 bilhões em aportes estrangeiros nos primeiros sete meses de 2011, valor equivalente a 35,8% dos US$ 41,4 bilhões que ingressaram na economia nacional até então. Em igual período de 2010, os mercados de infraestrutura receberam de outros países US$ 3 bilhões em recursos, 13,9% do total.   Apesar das deficiências a serem resolvidas, um dos principais termômetros do volume de obras tocadas no país, o setor de equipamentos para construção, registrou seu melhor desempenho de vendas internas em 2010, superando em 38% o recorde anterior, de 2008. Foram vendidas no ano passado 70.530 máquinas novas contra as 41.360 de 2009, um salto de 70,5%. Em 2011, as vendas devem chegar a 78 mil unidades, segundo expectativa de empresários ligados à Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção (Sobratema).   Até 2022, seriam necessários R$ 206 bilhões para universalizar o esgoto, conforme dados do próprio governo"
Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil       Extraída do Correio Braziliense
TOPO