Segunda, 29 Agosto 2011 10:27
Mais que estádio, uma Cidade da Copa em PE
Em meio aos temores de que a Copa do Mundo de 2014 deixe como herança uma manada de elefantes brancos, a Odebrecht, responsável por quatro dos 12 estádios, garante que ficará em Pernambuco o mais importante legado do torneio futebolístico. A empresa finalizou esta semana o projeto do bairro planejado que ocupará a área de 240 hectares onde está sendo erguida a arena, no município de São Lourenço da Mata, região metropolitana do Recife.
A primeira fase do empreendimento, prevista para ser entregue antes da bola rolar, vai exigir um investimento de R$ 800 milhões, valor que não inclui os R$ 532 milhões referentes ao estádio.
A decisão do governo pernambucano de levar a arena para o município, distante 19 quilômetros do centro do Recife, levou em conta uma suposta necessidade de expansão da região metropolitana da capital, hoje bastante caótica. Conhecido no jargão imobiliário como "smart city" (cidade inteligente), o projeto Cidade da Copa prevê a construção de uma série de aparelhos como hotel, centro de convenções, ginásio esportivo, universidade e hipermercado, além de edifícios empresariais e residenciais. Também estão previstos complexos de compras e entretenimento.
O "cérebro" da cidade inteligente ficará a cargo de empresas como Cisco, NEC e Ericsson, com as quais a Odebrecht firmou parceria para a elaboração de uma central de controle que vai monitorar desde a segurança até o fluxo de veículos e o consumo de energia. "Temos, por exemplo, todo o levantamento do potencial solar dessa região", revelou Marcos Lessa, diretor-presidente do consórcio Arena Pernambuco, empresa da Odebrecht responsável pelo projeto do estádio. O executivo garante que a Cidade da Copa será o maior legado do evento para o Brasil. "Essa é a nossa missão. Não há nada no país com a dimensão do que temos aqui", afirmou.
O empreendimento, segundo ele, será cercado por uma área preservada de Mata Atlântica, que fará sinergia com os diversos espaços verdes previstos para o interior do bairro. O planejamento arquitetônico foi desenvolvido em conjunto com o escritório inglês Aecom, o mesmo dos jogos olímpicos de Londres (2012) e do Rio de Janeiro (2016). Já o desenvolvimento imobiliário é uma parceria com o grupo americano AEG, especializado tanto na gestão das arenas multiuso como na estruturação urbana de seus arredores.
A primeira fase inclui, além do estádio com 46 mil assentos, um ginásio para 10 mil pessoas, uma universidade, um hotel com 300 quartos, um centro de convenções, 72 mil m2 de área de comércio e toda a infraestrutura de segurança. Segundo Lessa, a viabilização de empreendimentos como hotel e universidade ainda dependem do desfecho das negociações com potenciais investidores, que já estariam avançadas. A expectativa, porém, é de que as obras sejam iniciadas até o meio de 2012, para que tudo esteja pronto em 2014.
Encerrada a Copa, entra em campo a segunda etapa do projeto, que se estenderá até 2019 e ainda não tem orçamento calculado. No período serão erguidos o segundo centro de convenções e os edifícios empresariais e residenciais. A Odebrecht imagina que pelo menos 15 mil pessoas irão morar nos cinco mil apartamentos previstos. Segundo Lessa, os imóveis serão direcionados aos públicos das classes A, B e C.
A terceira fase, também sem orçamento fechado, inclui apenas a expansão dos empreendimentos residenciais e a utilização de áreas deixadas para "usos futuros". Além da população fixa, é esperado que outras 80 mil pessoas circulem pela "smart city" pernambucana durante seu apogeu. De olho nesse público, duas grandes redes de hipermercados estariam interessadas em se instalar no local, porém, em nome do sigilo das negociações, Lessa não revelou seus nomes.
Atualmente, quem sai do Recife só chega à região onde fica o projeto pela rodovia BR-408, que será duplicada até 2014. Também está nos planos a construção da Radial da Copa, via de 6,5 quilômetros que ligará a arena à uma importante avenida da capital pernambucana. O acesso também poderá ser feito pelo metrô do Recife, que passa próximo ao empreendimento. Uma nova estação será construída e funcionará como integração para o serviço de Bus Rapid Transit (BRT) que servirá a Radial da Copa.
Apesar de todos os projetos de mobilidade prometidos, a localização ainda é vista com muita desconfiança pelos fanáticos torcedores pernambucanos. Além disso, os três principais times do Estado possuem seus próprios estádios, o que torna mais desafiadora a consolidação da nova arena no calendário futebolístico local. Coincidência ou não, recentemente o Clube Náutico Capibaribe, um dos mais tradicionais, revelou o desejo de vender o Estádio dos Aflitos para não morrer afogado nas dívidas. "Já estamos bem adiantados com o Náutico, mas esperamos que os três joguem na nova arena", afirmou Lessa.
Possibilidades à parte, a Odebrecht vai fazer o possível para espantar o elefante. A intenção é que a Arena da Copa seja o destino preferencial de grandes shows - que no Recife não são muito frequentes. Nesse sentido, o estádio terá uma infraestrutura completa para espetáculos, incluindo todos equipamentos e, inclusive, o palco, normalmente trazido de fora. A empresa imagina algo entre quatro e cinco grandes shows por ano nos até 2016. Mais adiante, a expectativa é de até 15 apresentações anuais. "Só não vamos produzir os shows. O resto, vamos oferecer", garantiu o presidente da Arena Pernambuco.
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