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Sexta, 23 Outubro 2015 07:40

Caminhoneiros usam comunicadores para fugir da fiscalização nas estradas

Uma polêmica nas estradas. Não é difícil ver caminhoneiros falando por comunicadores. O aparelho é útil, mas tem motorista que usa o equipamento para driblar a fiscalização. Alguns caminhoneiros alertam outros quando encontram patrulhas nas estradas e até orientam para que eles se livrem de drogas para não serem flagrados.
Dá para ver de longe as antenas nas cabines dos caminhões. Elas ajudam a manter no ar a mais antiga comunicação nas estradas. O que um motorista vê, conta para os outros. E todos ficam sabendo que a equipe do Bom Dia Brasil está gravando na estrada. Mas é com a polícia que eles ficam preocupados.
“Estão parando todo mundo ali, gurizada”.
“Os “bota” estão na pista aí, sentido Curitiba, hein”
Os “botas” são os policiais rodoviários. Eles faziam uma fiscalização na Régis Bitencourt, que vai para o Sul do país. Os caminhoneiros aconselhavam quem estava fora da lei.
“Vamos esconder o tóxico aí que está feio ali, esconde a maconha que eles estão pegando maconha aí”.
“Os maconheiros aí, os drogados, escondam tudo”.
A polícia diz que falta fiscalização para esse tipo de comunicação. Um risco para todo mundo que está na estrada.
Os motoristas que estavam bem acima da velocidade permitida – 70 quilômetros por hora - também ficaram sabendo onde os policiais estavam com o radar móvel, que os caminhoneiros chamam de "secador de cabelo".
“Passando o viaduto, o “botas” estão lá com o “secador de cabelos”.
Avisar que a polícia está na pista não é ilegal. Mas traficantes e contrabandistas estão usando esse tipo de comunicação.
“O batedor, como é chamado o carro que vai à frente do comboio que está transportando drogas, equipamentos eletrônicos ilegais, identifica a posição dos policiais, se existe fiscalização ou não, facilitando a passagem do contrabando”, diz o porta-voz da Polícia Rodoviária Federal em São Paulo, Luís Carlos Maciel Júnior.
A lei considera clandestino quem usa o radiocomunicador sem permissão. A punição é de até quatro anos de prisão e multa. Para alguns radioamadores registrados, essa comunicação tem sido mal utilizada. Eles defendem um maior controle nas estradas.
“Nossa fiscalização é praticamente inexistente. Apesar de boa vontade da Anatel, você vê que o órgão é inoperante e sem atuação nenhuma no país”, reclama o radioamador Adinei Brochi.
Outra ameaça: a instalação do equipamento. A Polícia Rodoviária está de olho nas antenas.
“Essa antena dele está passando os limites do veículo, pode causar um acidente em uma freada brusca”, diz um policial rodoviário federal.
Mas os rádios também podem ser usados a favor dos motoristas.
Uma máquina usada para fabricar peças caiu da carroceria de um caminhão. Ela tem mais de 30 toneladas. O peso até destruiu a mureta que separa os dois lados da rodovia. Uma faixa inteira de trânsito teve que ser bloqueada. Aqui funcionou o lado bom do radiocomunicador. Caminhoneiros que passaram pelo local avisaram aos outros que vinham logo atrás e eles puderam diminuir a velocidade e evitar outros acidentes.
“Devagar que o caminhão perdeu a carga”.
“Tudo parado no 325, aí. Está passando só pela faixa da direita”.
Faz mais de 30 anos que José Ailton, o Peninha, é caminhoneiro. O rádio para ele ajuda na segurança e diminui a solidão.
“Anhanguera, sentido São Paulo, como é que está? Boa tarde. Você conversa com o colega que está no Pará, aí chama outro que está lá em Mato Grosso, outro está lá em Pernambuco, aí vai distraindo, quando vai ver são cinco da manhã, conversando a noite foi embora e você não viu”, diz. Extraído de: Bom dia Brasil/G1
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