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Segunda, 31 Março 2014 11:45

Investir em Petrobras é mirar longo prazo

No centro da polêmica sobre a compra de uma refinaria nos EUA, a Petrobras é cada vez mais vista como um investimento para quem pode esperar retorno no longo prazo (mínimo cinco anos).

As ações mais negociadas da estatal recuaram 15% em 12 meses até a última sexta-feira, para R$ 15,66. Mas os papéis chegaram a valer R$ 12,57 em meados deste mês, o menor patamar desde 2005.

O quadro ao lado mostra que quem investiu R$ 5.000 nas ações mais negociadas da Petrobras em 12 meses até 26 de março viu o capital diminuir para R$ 3.940.

Os cálculos consideram os dividendos (parte do lucro distribuída aos acionistas). A inflação do período, de 5,68%, não foi descontada.

Também houve redução dos valores nos fundos que aplicam recursos do FGTS na Petrobras. Se o investidor tivesse deixado a mesma quantia parada no FGTS, o valor teria subido para R$ 5.169.

O FGTS rende 3% ao ano mais TR (Taxa Referencial). O mesmo raciocínio se aplica para investimentos na Vale.

Como o dinheiro resgatado desses fundos específicos volta diretamente para o saldo do FGTS, que rende menos que a inflação, consultores recomendam a quem aplica nesses produtos que mantenha os investimentos com foco no longo prazo.

Alívio pontual - As ações da Petrobras tiveram um alívio nas últimas duas semanas, subindo 22,5%. Mas o movimento, dizem analistas, é pontual.
"Reflete a perspectiva de que, caso um novo governo seja eleito em outubro, as estatais seriam menos utilizadas como instrumento político", diz Filipe Machado, analista da Geral Investimentos.

A tese ganhou força na semana passada, quando pesquisa mostrou piora na avaliação da presidente Dilma e as ações da estatal subiram.
Mas a petroleira não escapou de ter sua nota de risco reduzida pela agência Standard & Poor's, após o rebaixamento dos títulos do governo brasileiro --ambos, porém, mantêm o chamado "grau de investimento", que é uma espécie de selo de bom pagador.

Para Luana Helsinger, analista do GBM (Grupo Bursátil Mexicano), o cenário para a Petrobras é nebuloso. "Ela deve ampliar a produção, o que é bom. O problema é que o consumo de combustíveis também sobe e, enquanto não houver reajuste nos preços, ela vai continuar sofrendo."
Por política do governo, para não aumentar a pressão sobre a inflação, a Petrobras importa derivados de petróleo a valores maiores que os de venda no Brasil.

Mesmo assim, consultores afirmam que sacar o dinheiro de fundos FGTS de Petrobras e Vale só compensa para quem vai se aposentar em até três anos ou estará apto em breve para usar os recursos do FGTS de outra forma, como para adquirir imóvel.

"Petrobras e Vale costumam pagar bons dividendos, o que encorpa a remuneração do investidor no longo prazo", diz Mauro Calil, consultor em finanças pessoais.

Custo de obras da estatal no PAC sobe 30% - Atraso na entrega e gastos maiores que os estimados fazem projetos da Petrobras no programa totalizar R$ 182 bi. Petroquímica no Rio e refinaria em Pernambuco são os dois projetos mais problemáticos.

Atrasos na entrega e estouros na previsão de gastos afetam a maioria dos projetos da Petrobras destacados no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), pacote do governo federal que elenca as principais obras do país.

A Folha comparou os atuais prazos e custos estimados em projetos da estatal com as metas divulgadas anos atrás, quando essas obras passaram a fazer parte desse selo federal, o PAC.

Os 14 projetos analisados totalizavam inicialmente despesas estimadas em R$ 120 bilhões. Atualmente, após atrasos, expectativas equivocadas e variação cambial, o custo previsto saltou para R$ 182 bilhões.

O valor, que inclui o que já foi gasto e o que ainda será despendido, representa avanço de 52% (ou 31%, descontada a inflação do período).
A diferença, de R$ 62 bilhões, equivale a oito vezes a soma das despesas com a construção e reforma dos 12 estádios da Copa de 2014.

Em 8 desses 14 projetos da companhia no PAC, há atrasos que variam de um ano a quatro anos e meio.

As obras são de diferentes áreas do setor de energia, como plataformas de petróleo, refinarias, indústria naval e combustíveis renováveis. Em parte delas, a Petrobras não é a única empreendedora.

Quatro dos projetos apareciam no balanço inicial do PAC 1, em 2007 --começo do segundo mandato de Lula.

Os demais passaram a fazer do pacote no PAC 2, nova fase do programa iniciada quando Dilma Rousseff assumiu a Presidência, em 2011.

Problemas - O economista Mauricio Canêdo, professor da Fundação Getulio Vargas, diz que, com a política de preços de combustíveis no mercado interno inferiores aos do exterior, há menos caixa e a empresa acaba "fazendo escolhas".

"A prioridade são investimentos na exploração e na produção [de petróleo]. Se ela não fizer, poderá perder o direito sobre um campo."
Canêdo também vê uma correlação dos atrasos com a readequação do plano de investimentos da Petrobras na gestão da presidente Graça Foster, iniciada em 2012.

A maior parte dos R$ 62 bi de diferença entre os orçamentos antigos e os atuais se deve a dois problemáticos projetos: a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).

A obra em Pernambuco foi pensada como uma parceria com a Venezuela. O país vizinho, no entanto, decidiu se retirar do empreendimento, deixando a íntegra da conta para a estatal brasileira.

A obra do Rio é afetada por diversas questões, como problemas ambientais e greves.
Atrasos - Presidente da associação dos engenheiros da estatal, Sílvio Sinedino, que tomará posse no conselho de administração da companhia nesta semana, diz que os adiamentos nos prazos acabam impactando também nos custos dos empreendimentos.

"Os atrasos dão margem para que as empreiteiras peçam aditivos aos contratos", afirma Sinedino.

Câmbio e inflação explicam aumento, afirma companhia - A Petrobras e o Ministério do Planejamento, responsável pela gestão do PAC, atribuem a alta nos orçamentos de projetos a fatores como a variação cambial ocorrida desde o anúncio das obras e a inflação no período.

A Petrobras disse que os empreendimentos da época do PAC 1 estavam "em linha com projeções do mercado".

Para o ministério, é "inconsistente em termos metodológicos" comparar dados atuais com os de sete anos atrás. A maior parte dos projetos analisados pela Folha leva em conta dados divulgados desde o início do PAC 2 (2011).

Extraída do Canal do Transporte

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