Quarta, 15 Janeiro 2014 10:56
Preços do etanol oscilam menos no país
Pelo menos nos últimos dois anos, o mercado de etanol hidratado vem experimentando uma menor oscilação de preços dentro de uma única safra. Para especialistas, essa menor volatilidade não é passageira. Resulta de uma mudança estrutural gerada pela capacidade das usinas de entender melhor o universo dos "carros flex fuel", no qual o motorista escolhe a todo tempo que combustível usar. Essa nova estrutura do mercado se consolida em uma indústria mais concentrada, com apenas 30% da produção em poder de usinas independentes.
A "menor volatilidade" vem sendo mais perceptível há duas safras. Na atual temporada, a 2013/14, a diferença entre o maior e o menor preço do produto na usina está, até agora, no patamar mais baixo em pelo menos uma década, segundo levantamento feito pelo Valor com base em dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq).
Essa diferença na usina em São Paulo está neste momento em 19% - o maior valor foi registrado em 13 de dezembro, de R$ 1,2944 por litro, e o menor, em 16 de agosto, de R$ 1,0803, segundo o Cepea. Nas duas safras anteriores essa oscilação ficou no patamar de 30%. Mas, uma análise das safras da última década, mostra que o preço do litro do etanol hidratado mais que dobrou em uma mesma temporada em alguns momentos. Foi o que ocorreu em 2003/04, quando a diferença alcançou 166%.
A menor oscilação pode ser, em parte, explicada pelo fato de que a gasolina impõe um teto ao preço do etanol - quando o preço do etanol equivale a 70% da cotação da gasolina nos postos de combustíveis, o biocombustível deixa de ser economicamente viável ao consumidor. Quando a frota era dividida entre os carros a gasolina e os movidos exclusivamente a etanol, essa pressão era baixa. Com o aumento da frota flex no país (e a diminuição da frota movida exclusivamente a etanol), essa pressão aumentou significativamente.
Isso porque mais consumidores agora podem "escolher" entre etanol e gasolina, conforme seus próprios critérios, diz a pesquisadora do Cepea/Esalq, Miriam Bacchi. Para explicar essa menor volatilidade dos preços é preciso considerar, ainda, segundo ela, que nas últimas duas safras a oferta ficou mais equilibrada com a demanda, o que não abriu espaço para muitas oscilações.
Mas para o diretor da comercializadora Bioagência, Tarcilo Rodrigues, a mudança é estrutural. O mercado, na sua visão, aprendeu a lidar com o comportamento do consumo de etanol na "era" do carro flex. Ele explica que, quando as usinas mais descapitalizadas começam a vender muito etanol e o preço cai, as grandes param de vender e só retornam ao mercado quando o preço se recupera. Assim, as cotações que até poderiam cair mais naquele momento, ficam mais contidas, e a volatilidade diminui, explica Rodrigues.
É importante mencionar, segundo ele, que essa condição de equilíbrio só pôde se dar porque há uma maior concentração na comercialização do biocombustível do que há dez anos. As usinas independentes, que não estão ligadas a nenhum grande grupo produtor ou comercializador do produto, representam hoje cerca de 30% da oferta de etanol no Centro-Sul. Há alguns anos, eram pelo menos 50%, afirma Rodrigues. É esse grupo de usinas que costuma vender mais etanol para fazer caixa, ainda que os preços estejam caindo.
Para as tradings de etanol, a estabilidade do mercado reduz substancialmente as oportunidades delas gerarem boas margens entre a compra (durante a safra) e a venda (na entressafra) do biocombustível.
Nesta safra, pelo segundo ano consecutivo, a Copersucar, a maior trading de etanol do mundo, não espera conseguir margens elevadas na comercialização do biocombustível, disse o presidente da companhia Paulo Roberto de Souza ao Valor em dezembro do ano passado. "Não haverá muitas oscilações. O preço da entressafra deve subir o suficiente apenas para pagar o custo de carregamento", afirmou Souza.
A dificuldade de atender alterações abruptas de consumo de etanol afeta toda a cadeia de combustíveis, diz o presidente-executivo do Sindicato Nacional dos Distribuidores de Combustíveis, Alísio Vaz. Ele lembra que na virada de 2009 para 2010, os preços do etanol subiram muito, e os consumidores migraram em massa para a gasolina. "Houve uma grande dificuldade logística de atender à mudança da demanda", lembra Vaz.
Extraído de: Canal do Transporte