Quinta, 31 Outubro 2013 10:08
Gatilho para subir preço da gasolina divide o governo
A Petrobras divulgou oficialmente ontem ao mercado como deverá ser a nova metodologia de preços de combustível proposta pela estatal ao governo no fim da semana passada. Conforme o fato relevante entregue à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os reajustes da gasolina e do diesel seriam automáticos e periódicos, de acordo com cálculos baseados numa cesta de indicadores.
O Conselho de Administração da companhia — leia-se o sócio controlador, a União — pediu prazo até 22 de novembro para avaliar a fórmula sugerida pela diretoria executiva. Segundo o blog do jornalista Kennedy Alencar, a presidente Dilma Rousseff deu aval para a presidente da Petrobras, Graça Foster, propor o novo modelo de reajuste, levando em conta as necessidades de investimento da estatal.
“A metodologia contempla reajuste automático em periodicidade a ser definida antes de sua implantação, baseado em variáveis como o preço de referência desses derivados no mercado internacional, taxa de câmbio e ponderação associada à origem do derivado vendido, se refinado no Brasil ou importado”, explica o documento.
A notícia que já vinha empolgando investidores desde a segunda-feira foi reforçada ontem pelo rumor de que a adoção do “gatilho” seria anunciada no próprio dia 22, com o anúncio de reajustes.
Poucas horas depois, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reagiu com aspereza às notícias e descartou veementemente qualquer definição sobre a adoção do gatilho ou mesmo a data para o próximo reajuste. “Não tem data definida para o aumento dos combustíveis”, respondeu a jornalistas durante a participação de evento comemorativo aos 10 anos do Programa Bolsa Família.
Ele acrescentou que o novo método de fixação de preços de combustíveis ainda está sendo desenvolvido há meses pela estatal e nada estaria definido. A divulgação do fato relevante seria só uma exigência formal da CVM. “Não é de hoje que isso está em discussão. A metodologia de reajuste é coisa séria, não pode ser feita de afogadilho”, ressaltou.
Mais cedo, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, evitou tratar do tema polêmico. Ele afirmou que a nova fórmula de preços da petroleira será novamente apresentada na reunião do conselho, no dia 22. “Não tenho notícia sobre isso. Só posso falar quando receber oficialmente”, esquivou-se. Na véspera, um conselheiro da estatal disse que a nova metodologia não ressuscitaria a chamada “conta petróleo”.
Austeridade
“A retenção dos reajustes foi longe demais, a ponto de comprometer os projetos de produção da Petrobras, além de que o espaço de manobra do governo nesse tema está esgotado”, observou Leonardo Caio, consultor do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP). Para ele, o uso recorrente do controle de preços de combustíveis criou vícios, e uma mensagem de austeridade passou a ser urgente.
Na sexta-feira, a Petrobras divulgou que a diretoria executiva havia aprovado nova metodologia de precificação, sem detalhar o mecanismo. Na segunda-feira, o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa, adiantou que os aumentos seriam automáticos e periódicos, de modo a dar previsibilidade e transparência às receitas, além de buscar reduzir os elevados níveis de endividamento (35% do faturamento) e apoiar o programa de investimentos.
O evidente desconforto da equipe econômica com a proposta pressionou para baixo as ações da Petrobras, que chegaram a cair mais de 3% pela manhã. Mas os papéis voltaram a subir diante da informação à tarde de que o Ministério de Minas e Energia propôs ao Planalto elevar o percentual de mistura de biodiesel no diesel, aliviando a pressão sobre os importados.
Os papéis ordinários fecharam em alta de 1,27% e os preferenciais, em 1,88%. As defasagens provocadas pela atual política de preços da Petrobras, atrelada ao combate da inflação, tem sangrado o caixa da empresa e colocado em risco sua nota de crédito.
Extraído de: Agência T1