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Sexta, 07 Dezembro 2012 10:37

Movimento de cargas em hidrovias é de apenas 12%

Pelos 20,9 mil quilômetros de rios, lagos, lagoas e lagunas navegáveis que cortam o interior do Brasil passaram ano passado 109,2 milhões de toneladas de minério de ferro, fertilizantes, adubos, soja, farelo de soja, milho, enxofre e cal, entre outros itens, além de um número impreciso de pessoas. A União Europeia, em igual período e 30 mil quilômetros de hidrovias, transportou quatro vezes mais mercadorias. Até pouco tempo acreditava-se que entre 4% e 5% de todas as cargas movimentadas no país utilizavam as hidrovias. A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) corrigiu a informação recentemente para 12,37%, uma participação ainda baixa diante da generosidade com que a natureza brindou o Brasil.   Falta pensamento estratégico e sistêmico, diz Augusto César Barreto Rocha, doutor em engenharia logística e coordenador da comissão de logística da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam). "Existe o projeto de um polo naval em Manaus com uma visão estratégica enorme, mas tem o desafio de sair do papel." A falta de investimentos em terminais é mais crítico, porque falta vontade executiva e técnica para viabilizar, diz ele, referindo-se ao ponto nevrálgico da região que são as licenças ambientais. Segundo ele, faltam portos com tecnologia apropriada ao perfil das cargas, restrições a operações 24 horas, o que reduz a velocidade de movimentação das cargas e a falta de práticos na ZP-1 (Zona de Praticagem entre Fazendinha/AP e Itacoatiara/AM) para a cabotagem.   Rocha aponta a ausência na região de rodovias e ferrovias conectadas à malha nacional e integradas aos portos. Há "apenas na BR-174, que conecta o Amazonas com Roraima, no terminal de cargas do aeroporto de Manaus e no gasoduto Coari-Manaus. E só", afirma. "Estamos longe de gastar 2% do PIB da região em infraestrutura."   Das 109 milhões de toneladas de cargas movimentadas em 2011 nas hidrovias, menos de 30% foram de transporte entre vias de interiores. A cabotagem usou as hidrovias em 22,45% da sua movimentação em 2011 e a navegação de longo curso apenas 4,91%. O potencial desperdiçado é gritante. O Brasil conta com uma disponibilidade de 42 mil quilômetros de vias navegáveis. "Com investimentos relativamente simples em dragagens, derrocagem, portos e terminais poderíamos chegar a 30 mil quilômetros de vias navegáveis em pouco tempo", diz o superintendente de navegação interior da Antaq, Adalberto Tokarski.   Estudo da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) aponta que 68 milhões de toneladas de soja e milho produzidas no país ficam acima do Paralelo 16 e outros 62 milhões de toneladas abaixo dele. O fato é que 45 milhões de toneladas excedentes da parte superior desceram para a região Sudeste, majoritariamente, em cima de caminhões e uma parte seguiu por rodovia até o porto de Paranaguá (PR). As hidrovias do país escoam menos de 5% da safra brasileira.   Já o complexo do Paraná Tietê se prepara para obter no médio prazo um dos melhores índices de aproveitamento de suas águas, principalmente para o transporte de combustíveis e açúcar. Isso se deve aos investimentos da Transpetro (subsidiária da Petrobras) anunciados para a construção de 80 barcaças e de 20 empurradores, os quais serão empregados para a movimentação de etanol. O primeiro comboio está previsto para o começo de 2013. Cada comboio é composto de um empurrado e quatro barcaças, com capacidade total de 360 mil litros.   Os investimentos na Hidrovia Tietê envolvem R$ 1,5 bilhão. Ao todo, 35 intervenções deverão ser concluídas até o fim de 2015. Foram iniciados os trabalhos de adequação de pontes e de canais, além de melhorias em sete eclusas. A movimentação no corredor pode duplicar depois da entrega das barcaças e empurradores encomendados pela Transpetro. "São Paulo acordou e se antecipou as demais regiões", diz Paulo Vicente Caleffi, diretor da Transportes Bertolini.   A fábrica da General Motors, de Gravataí (Região Metropolitana de Porto Alegre), poderia usar a hidrovia e a cabotagem de longo curso para levar seus veículos às regiões Norte e Nordeste. O comum é ver uma cegonheira com dez carros indo até Recife. Estima-se que 90% da produção industrial situada em um raio de 150 quilômetros da capital gaúcha poderia usar a hidrovia para escoamento.   A boa notícia é que as hidrovias foram alvo de um estudo, amplo a minucioso, o Plano Nacional de Integração Hidroviário (PNIH), capaz de subsidiar a elaboração das futuras políticas governamentais, bem como de aperfeiçoar a fiscalização e a regulação do setor. O trabalho é composto por estudo e análise das hidrovias e suas instalações portuárias a partir da implantação de um sistema de informação geográfica, parte importante para a elaboração do Plano Geral de Outorgas. O PNIH resulta de um acordo entre a Antaq e o Laboratório de Transportes da Universidade Federal de Santa Catarina (LabTrans/UFSC).   O PNIH identificou, por exemplo, potencial para a instalação de oito novas áreas para terminais na hidrovia Tocantins-Araguaia e cita a busca brasileira pela agregação de valor nos produtos exportados, o que gera expectativa de aumentos na produção do aço para exportação em detrimento da exportação do minério de ferro. O trabalho faz referência a implantação da Aços Laminados do Pará (Alpa), projeto do governo federal e a Vale de mais de US$ 3 bilhões. A Alpa deve iniciar atividades em 2014 em Marabá (PA). Das 2,5 milhões de toneladas de placas de aço a serem produzidas por ano, 1,85 milhão serão exportados.     Extraído de: Canal do Transporte
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