Quinta, 24 Janeiro 2013 10:03
Produtores temem que escoamento da safra atrase com Lei dos Caminhoneiros
Se a cadeia produtiva da soja tivesse que escolher um único desejo a ser realizado em 2013, este seria o adiamento, mais uma vez, da Lei dos Caminhoneiros. A fiscalização da polêmica Lei 12.619/2012, que disciplina o trabalho dos motoristas profissionais, está prevista para começar em março, mas o Ministério Público do Trabalho busca na Justiça antecipar a medida.
Embora reconheçam que as novas regras prezam pela segurança nas estradas, as entidades do setor avaliam que a determinação de jornada máxima para a categoria e períodos de descanso em intervalos menores dificultarão o escoamento da oleaginosa, já naturalmente complicado durante o período de entrada da safra. O Brasil deve colher um recorde de 82,6 milhões de toneladas em 2012/13, 24% mais do que na temporada anterior.
Caso esse volume, que a Companhia Nacional de Abastecimento estimou em dezembro, seja alcançado, o País se tornará o maior produtor mundial de soja. Uma conquista importante depois que quebras de produção - primeiro na América do Sul e depois nos Estados Unidos - encolheram os estoques globais e impulsionaram os preços internacionais da commodity para máximas históricas. Os gargalos logísticos podem restringir o potencial brasileiro de exportação. Ainda assim, a Conab projeta os embarques do produto para o exterior em 36,4 milhões de toneladas em 2012/13, 12% maiores na comparação anual.
Apesar da intenção do governo federal de diminuir a dependência do transporte rodoviário, os investimentos em ferrovias e portos não devem ser percebidos no atual ciclo. “Estaremos muito pressionados, não só pelas dificuldades que vinham se acumulando, mas por causa dos entraves dessa Lei dos Caminhoneiros”, afirma Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag). Segundo ele, se for aplicada da forma que está, reduzirá em 30% a capacidade de transporte. “Hoje já temos escassez de 50 mil motoristas. E, só para atender ao incremento da produção agrícola deste ano, precisaremos de mais 20 mil veículos novos”, observa.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Carlos Fávaro, que também preside o Movimento Pró-Logística, diz que as limitações logísticas reduzirão a competitividade do agricultor brasileiro. “Ele vai perder esse bom momento, vai pagar mais caro pelo transporte e vai ficar esperando em fila nos portos”, comenta. Para minimizar os problemas no curto prazo, Fávaro recomenda a implementação gradual da Lei dos Caminhoneiros. “Seria de bom senso e evitaria um colapso na logística brasileira”, acrescenta Fávaro.
André Debastiani, analista da Agroconsult, sugere também investir em armazenagem para que o escoamento não se concentre no auge da safra. Ele lembra que o produtor teve boa rentabilidade nas últimas cinco temporadas e depende menos de tradings para financiar a sua produção. “Ele tem a possibilidade de segurar a soja um pouco mais e tentar uma estratégia diferente de comercialização”, explica.
Mas Edeon Vaz, diretor-executivo do Movimento Pró-Logística, pondera que nem sempre isso é possível. “Não se exporta só porque não se tem armazém, mas porque a demanda está aquecida naquela época”, explica, referindo-se ao fato de que a produção brasileira é ofertada no período de entressafra do hemisfério Norte.
Abiove acredita que a limitação logística poderá tornar o frete até 70% mais caro
Os entraves logísticos para o escoamento da produção recorde de soja devem encarecer o frete em até 70% no pico da safra 2012/13, calcula a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove). “Quem vai pagar a conta é a população na hora em que comprar os produtos no mercado interno. E também o produtor, que vai receber menos quando exportar”, afirma Fábio Trigueirinho, secretário-geral da entidade.
Segundo o presidente da Coamo Agroindustrial Cooperativa, José Aroldo Gallassini, o frete rodoviário é o principal desembolso dos cooperados. “É o transporte mais caro que temos, e chegamos a ter de 1,5 mil a dois mil caminhões por dia na estrada no auge da safra.”
A cooperativa de Campo Mourão (PR) tem 600 caminhões de grande porte, que respondem por até 40% do escoamento do volume produzido. O restante é transportado por uma frota terceirizada que opera exclusivamente para Coamo, com a qual o frete é previamente contratado, e por uma outra, que cobra valores de mercado. “Vamos precisar de mais motoristas para cumprir a lei”, comenta Galassini, destacando o provável aumento dos custos para o produtor.
Carlos Lovatelli, presidente da Abiove, afirma que um país com enormes proporções territoriais como o Brasil, e com grandes volumes de carga para transportar, deveria ter uma matriz logística mais diversificada, mas ferrovias e hidrovias não são prioridade. “Quase metade das ferrovias está ociosa ou instalada em locais que não levam a lugar nenhum. As hidrovias, infelizmente, ainda são incipientes”, observa.
Nos últimos cinco anos, ressalta Lovatelli, a produção brasileira de grãos saltou de 135 milhões para 180 milhões de toneladas. “Só que esse aumento de oferta não veio acompanhado da expansão do potencial logístico ou dos portos”, reforça Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag).
Pacote dos portos tem apoio, mas o setor de agronegócios reclama de algumas regras
A decisão do governo de abrir o setor portuário à iniciativa privada foi comemorada pela cadeia produtiva da soja, mas alguns aspectos da Medida Provisória 595/2012 são controversos. As novas regras desagradaram àqueles que têm contratos próximos do vencimento. Conforme a MP, as concessões nos portos públicos terão vigência de 25 anos, prorrogáveis por igual período, após o qual voltam a ser licitadas pela União.
A Coamo Agroindustrial possui duas concessões que envolvem armazéns e terminais no porto de Paranaguá. Uma delas vence em 2023, e a outra, em 2013. A cooperativa, com sede em Campo Mourão, quer estender o contrato que expira em 2013 até 2023 e, depois, prorrogar por mais 25 anos. “Esperamos que o governo tenha sensibilidade de rever essa MP, senão teremos muitos problemas”, afirma José Aroldo Gallassini.
A Abiove e a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT) reconhecem os esforços do governo para melhorar a capacidade dos portos, mas também são a favor de mudanças nas normas. “Não adianta o produtor ser competente da porteira para dentro se é penalizado da porteira para fora. Temos que pensar em readequar essa MP para estimular a iniciativa privada a investir”, diz Edeon Vaz, diretor-executivo do Movimento Pró-Logística da Aprosoja.
Ele reforça a importância de viabilizar o escoamento da produção mato-grossense pelos portos do Arco Norte, como Santarém, Itaqui, Vila do Conde, Outeiro e Santana. O acesso pela BR-163, que vai de Cuiabá (MT) até Santarém (BA), deve ser concluído em 2014, de acordo com ele. A exportação de soja se dá basicamente pelos sobrecarregados portos de Santos e Paranaguá, destaca André Debastiani, analista da Agroconsult.
“Mesmo com todo esse movimento, o aumento de produção que teremos ao longo dos próximos anos talvez torne insuficiente essa estrutura na qual pretendemos investir agora”, adverte Debastiani. A expectativa do governo é atrair R$ 54,2 bilhões em novos investimentos nos portos brasileiros até 2017.
Mato Grosso inicia colheita de safra recorde de soja; Rio Grande do Sul finaliza o plantio
A colheita de uma safra de soja estimada para ser recorde em Mato Grosso já começou, afirmaram representantes dos agricultores no estado, o maior produtor brasileiro da oleaginosa. O volume colhido até o momento, no entanto, ainda é pequeno, disseram o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e um diretor da Aprosoja-MT, entidade que reúne os produtores de soja.
Tradicionalmente, Mato Grosso é um dos primeiros estados a iniciar a colheita de soja no Brasil. Pelas informações preliminares, o total colhido está dentro do registrado no mesmo período do ano passado. Não é possível estimar um percentual de colheita nesta fase inicial, segundo os representantes das entidades. “Tem gente colhendo, muito pouca (colheita), mas já tem colheita. Dois amigos estão colhendo, mas não me falaram a produtividade, já que está muito no início”, disse o presidente da Famato, Rui Prado, falando pelo celular da lavoura em Campo Novo do Parecis, na região Central do estado.
Prado disse estar preocupado com a falta de chuva nos últimos dias na região do Médio-Norte. “Tem nuvem no céu, mas está chovendo pouco. Falei com amigo em Sorriso (principal município produtor de soja do Brasil), e está ruim de chuva”. Prado garantiu, porém, que a recente escassez de umidade não representa problema. “Não está indicando perda, não. Estamos acreditando que a safra vai ser boa.”
O estado deverá colher uma safra recorde, segundo estimativa do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Pela previsão do órgão de análise de mercado da Famato, a produção de Mato Grosso atingirá 24,13 milhões de toneladas na safra 2012/13, crescimento de 13% ante a temporada do ano passado.
“As primeiras notícias de áreas de colheita foram em 24 de dezembro. Nos primeiros dias de janeiro aumentou a colheita”, afirmou o diretor da Aprosoja-MT na região Leste, Endrigo Dalcin, observando que, na sua área, o trabalho ainda não começou, até porque houve replantio das primeiras áreas plantadas em função do tempo seco.
Mas ele destacou que, na região Oeste e no Norte do estado, alguns produtores já estão colhendo. “Está praticamente o mesmo percentual de colheita do ano passado.” Considerando a estimativa do Imea e a última previsão oficial da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra nacional, Mato Grosso deverá responder por cerca de 30% da colheita brasileira.
A Conab estima a produção brasileira em um recorde de 82,6 milhões de toneladas. Na temporada passada (2011/12), o Brasil produziu 66,3 milhões de toneladas de soja, tendo sua colheita afetada por problemas climáticos, especialmente nos estados do Sul. Na temporada atual, produtores brasileiros ampliaram o plantio por conta dos altos preços no mercado internacional, após uma quebra de safra nos EUA - Brasil e EUA são os os principais produtores globais de soja.
Já no Rio Grande do Sul, o plantio da safra de soja está praticamente finalizado, com 97% das lavouras na fase de desenvolvimento vegetativo, segundo boletim divulgado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS), em parceria com a Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (Ascar).
Na Fronteira-Noroeste e nas Missões, configura-se uma “safrinha” da soja. Nessas regiões, aproximadamente 3% da área total a ser semeada com a leguminosa têm seu início em janeiro - após o período recomendado pelo zoneamento agroclimático -, pois o microclima tropical dos municípios costeiros ao rio Uruguai favorece a semeadura nesta época, sobre o milho plantado em final de julho.
As temperaturas elevadas e a umidade excessiva têm propiciado condições para o surgimento de pragas nas lavouras de soja gaúchas, como lagartas e percevejos, mantidas sob controle pelos produtores. Assim como as da soja, as lavouras de milho - que se encontram em fase de floração e enchimento de grãos - apresentam aspecto fitossanitário e potencial produtivo satisfatórios. As cotações também são favoráveis para os produtores, segundo a Emater/RS.
Extraído de: Jornal do Comércio/RS